Retrato de uma princesa desconhecida
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
Sophia de Mello Breyner Andresen
Portrait of an unknown princess
For her to have such a slender neck
For her wrists to be a stem breaking
For her eyes to be so open and clear
For her spine to be so straight
And that she carry her head so high
With such simple clarity upon her brow
Successive generations of slaves were necessary
Of crouched body and pacient thick hands
Serving successive generations of princes
Still a little crude
Eager, cruel and fraudulent
It was an enormous waste of people
For her to be that perfection
Solitary exile without destiny
(my translation)